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sexta-feira, 2 de julho de 2010

não precisamos de Pôncio Pilatos



Não, não crucificarei o Dunga, direi até que realizou uma escalação bastante razoável. Ganso, 20 anos e Neymar com 18 possuem bola, tesão e oportunidades suficientes para vestir Real Madrid, comprar porshe, e serem eleitos os melhores do mundo nesses próximos 4 anos. Peço pelo amor de Garrincha que tenham um porto seguro, seja igreja, família, ONG, algum ativismo anti-bélico-pró-ambiente para não correr o risco de calçarem tamancos ou se banharem compulsivamente com os talcos mais refinados do planeta.

Outros bambas da pelota surgirão, afinal de contas nenhum verde-amarelo quer ver o repeteco de um 1950, no recém-inaugurado Maracanã, que como já disse em outra crônica desse Riocife, significa um tipo de papagaio no tupi-guarani que faz um som semelhante (nã) a um chocalho (maraka). Até 2014, serão enxurradas de investimento para que a chacoalhada dê em samba. A Copa do Brasil e o Brasileirão serão torneios mais interessantes de se ver, posso presumir que haverá um maior esforço em aparecer por parte tanto da comissão técnica quanto dos jogadores e, para isso, uma concentração maior nos treinamentos, no aperfeiçoamento da mira, na calibragem para a conquista do alvo.

Mas voltemos à terra de Mandela, especialmente no jogo mais “não acredito” que vi nas últimas copas. Michel Bastos estava no seu melhor jogo, finalmente a esquerda brasileira estava começando a ficar jacobina, no entanto novamente fico com o Dunga, Michel estava muito preciso na marcação do pé esquerdo do espalhafatoso Robbens, que sensibilizava facilmente o juiz, possivelmente fã de carteirinha do teatro japonês. Um segundo amarelo estava pedindo para ser sacado do bolso da camisa preta. O Nilmar poderia ter entrado uns cinco minutos antes, mas tudo bem.

O que não consigo entender é que num mundo em que parece estar dando um upgrade geopolítico, onde há indícios, vindos do Brasil inclusive, em se negociar de forma mais responsável o desarmamento nuclear, num mundo onde a consciência de sustentabilidade ambiental está se multiplicando por entre os terráqueos, um voltarredondense chamado Felipe Melo consegue passar no psicotécnico do DETRAN e jogar com a camisa da seleção numa Copa do Mundo.

Após as últimas e suficientes diabruras com o alagoano Pepe (que também é da cachola dodói), no Portugal X Brasil, mesmo com Ramires suspenso, era pra Felipe Malvadeza já estar cumprindo crime futebolístico, recapeando a grama do estádio do Juventus, seu time atual... por enquanto. Até um goleiro reserva deveria ser escalado na sua posição após o jogo contra Portugal. Mas não quero crucificá-lo ao ponto de culpá-lo pela derrota, aliás fazer o que Pôncio Pilatos fazia parace ser mais mole que manteiga no verão.

Finalmente, acho que o bom time canarinho eleito pelo Dunga não estava preparado emocionalmente para um aperto de placar, comum em qualquer pelada, quanto mais numa Copa milionária. Definitivamente não se teve um clima de maturidade de alguém ali que “puxasse na grande” e cantasse: “desesperar jamais / cutucou por baixo o de cima cai / cutucou com jeito não levanta mais”. Coréia do Norte, Costa do Marfim, Portugal e Chile não prepararam o Brasil nesse sentido, e jogar na pressão contra a Holanda nas quartas, logo após um primeiro tempo dominado, nunca poderia ser descartado. Afinal de contas, contando com o Brasil de hoje, somam-se 23 jogos de invencibilidade. E nem quero falar da história da Laranja, confesso que prefiro até a versão do Kubrick.

Impossível como riocifense não comentar do compartilhamento da desilusão com figuras que vi há pouco nas ruas de Vila Isabel: o vendedor, de chapéu e bigode, totalmente atordoado com a quantidade de fé que havia assumido ao comprar toneladas de gelo e cerveja para vender na rua Pereira Nunes, e a de um garoto ensacolador do supermercado Premium, embalando nas sacolas arroz e xampu num desalento infinito e devorador de esperanças. No entanto, por cima desse semblante, um penteado punk-comportado não escondia a gana de acreditar em dias melhores.

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