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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Bom Dilma (por Dr. Luiz, um médico da família de uma OS perto de você)

“Uma carta sempre pode falhar ao seu destino”
(Jacques Derrida)
“Mas mesmo assim precisa ser escrita”
(eu mesmo)

Querida presidenta, também assisti ao documentário Trabalho Interno (Inside Job, 2011) e, assim como a senhora, descobri que o Lehman, de “Brothers” não tem nada...
A senhora não pode quando estiver com insônia se ater a conteúdos ansiogênicos, recomendo fazer cálculos de aritmética sem nenhuma correspondência com PIB, taxa de câmbio ou juros líquidos. Sugiro contas do tipo: Pedrinho foi à feira comprar mamão, só tinha 10 reais, e a promoção era 2 mamões por 5, quantos mamões Pedrinho levou? Recomendo parar por aí, pois Pedrinho pode perguntar: por que há 3 meses o mesmo feirante vendia 3 mamões por 5?
Insisto nisso, presidenta, para que o seu sono não seja invadido por uma tempestade tenebrosa de dólares, seguido de um Godzila chamado Inflação avançando sobre a Esplanada, sua sombra crescendo... O bicho, morto de sede devido à baixa umidade de ar, num só golpe, arranca a cuia do Congresso para sorver em goles o lago Paranoá. Nem ouse, presidenta, senão pode vir um pesadelo pior: o sumiço da reserva do pré-sal. Os chineses drenaram tudo através do mais profundo buraco no chão perfurado do outro lado da Terra. E distribuíram o ouro negro por toda a China em vasilhames de molho shoyo. A senhora poderia acordar molhada de royalties, ser compulsoriamente afastada por alguns dias e... Michel Temer... não!
Mas deixemos pesadelos e Godzilas de lado, pois quero focar em tecnologia na Atenção Primária à Saúde. Sei que a senhora, ao mesmo tempo que deseja atrair investimentos, também sonha com o aumento da cadeia produtiva nacional, investindo em inovação e tecnologia, não é? Quer mandar esse papo de país-banana-agro-exportador pastar, não é? Pois bem, então por que diachos a Fiocruz praticamente havia comprado sem licitação o tal do Alert a 365 milhões dos portugueses? Saravá Dom Pedro que a Folha de São Paulo noticiou o fato e o contrato foi cancelado há poucos dias. Quem diria que poderíamos agradecer à Folha, hein?
Para quem não sabe o Alert é um software de gestão de dados, que permite a formatação de prontuários eletrônicos, e a integração das informações de saúde em rede. Para as OSs, é por onde se avalia o cumprimento das sagradas metas. Isso mesmo, no Rio já está sendo usado em vários serviços de saúde, o que quase aconteceu foi a expansão nacional.
Todo esse arrodeio, presidenta, é para lhe dizer que os portugas e os mineiros (a representação da marca é de uma empresa de Minas) nunca foram tão bem pagos para tocarem a Dança da Manivela. Lembra? Nós, profissionais do Saúde da Família do Rio, ainda estamos nos esbaldando com tamanha riqueza coreográfica. A cada travamento, um passinho: pa pa ra pá pa ra ra...
Preste atenção, há duas questões sérias a respeito do Alert. A estrutural se relaciona com uma outra dança, a do empurra-empurra, digamos num formato mais punk inglês do que axé baiano. A empresa mineira que representa o Alert no Brasil diz que a prefeitura do Rio não cumpriu cláusulas contratuais que garantem um nível “x” necessário de qualidade de rede de internet para poder correr o programa online. Leia-se sem manivelas. Já a prefeitura retruca dizendo que isso não estava no contrato original, enquanto isso a OS cobra de ambos pois ainda não está podendo checar metas e, por conseguinte, produzir mais lucros.
A outra questão é mais técnica, pois sendo um software para ser usado na Atenção Primária, não possui ferramentas diretas e acessíveis para a saúde da família: georreferenciamento, heredograma, prontuário familiar e outros recursos que poderiam ser uma mão na roda, mas é na manivela que a roda gira.
Recheando tudo isso, adiciono a cereja do ridículo treinamento a que os profissionais foram submetidos. A prefeitura diz que a empresa deveria ter oferecido mais que o dobro de horas para ensinar as equipes a manejá-lo, resultado: muitas críticas, pouca satisfação, e nenhum sentimento afetivo por parte dos trabalhadores, tipo: um software para chamar de seu.
Após 189 anos de independência, mesmo que seja de mentirinha, mesmo que tenhamos sidos transferidos para outras metrópoles, não merecíamos montar o nosso próprio software de gestão de dados para uma estratégia tão pop star para o governo como a Saúde da Família?
Bom, presidenta, espero que reflita a respeito das danças, e ponha-se em Alerta sobre transferência de tecnologias entre os cruzmaltinos e os tupiniquins.
Despeço-me lhe rogando que cuide do seu sono. Afaste-se do Godzila, do Pepe Vargas, de uma EC 29 sem Fundeb, do PT do RiOS, das tecnologias sem antropofagias e, sobretudo, desses “Brothers” que fazem Pedrinho gastar mais dinheiro.




Carinhosamente,
Dr. Luiz.

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